Fonte: CIO.

Por muitos anos, o mercado apostou na morte do livro impresso, mas o livro eletrônico nunca o superou. A trajetória dos livros eletrônicos não é um indicador de fracasso do produto, mas uma demonstração de como o processo de disruptura pode se prolongar.

Os livros eletrônicos no Brasil representam 2,57% do faturamento do mercado de livros. Nos Estados Unidos, onde eles conquistaram mais adeptos, essa fatia é estimada em 13%. No Reino Unido, 11,5%; na Alemanha, 5%; e, em toda a União Européia, apenas 1,6%. Após 2014, os números de vendas acusaram pela primeira vez sinais de queda. No Reino Unido, de 2,4%, considerando as cinco principais editoras. Esse é o panorama do livro digital quase dez anos depois do lançamento do leitor eletrônico mais popular do mercado, o Kindle.

Quando começou a ser comercializado pela Amazon, o mercado editorial se viu agoniado por uma disruptura que ameaçava transformar os livros em papel em peças de museu. Mas os prognósticos falharam. Agora, diante de números ainda magros e de alguns sinais de estagnação, novas previsões começam a apostar no declínio dos e-books. Minha aposta é que essas previsões também não vão se realizar.

A trajetória dos livros eletrônicos não é um indicador de fracasso do produto, mas uma demonstração de como o processo de disruptura pode se prolongar. Uma das razões é a barreira cultural. O livro impresso é um meio que se popularizou a partir da disruptura desencadeada por Gutenberg e sua impressora, em 1440. Outra é o poderio do mercado editorial, que movimenta cerca de 151 bilhões de dólares ao ano.

Segundo dados do relatório do Parlamento Europeu «E-book: Evolving markets and new challenges», livros são o maior segmento da indústria de entretenimento, superando música (US$ 50 bilhões), videogames (US$ 63 bi), revistas (US$ 107 bi) e mesmo filmes (US$ 133 bi). As grandes editoras têm poderio suficiente para, até certo ponto, ditar o ritmo da mudança, da forma que seus interesses sejam menos afetados. São elas que determinam os preços tanto dos livros impressos como dos eletrônicos, e isso afeta, evidentemente, a velocidade do processo de migração.

Houve exagero por parte daqueles que decretaram a morte prematura do livro impresso. O tempo mostrou que o livro eletrônico não veio para matar, mas para conviver com o livro impresso. Quantos leitores têm o livro na estante e duplicatas dele no leitor eletrônico, no computador ou no celular. Quando estou em casa, posso me dar ao prazer de folhear o livro que gosto. Quando estou no metrô, leio no celular. Existem livros que funcionam melhor no papel e livros que funcionam suficientemente bem na versão digital. E essa relação vai se alterando à medida em que novas tecnologias se apresentam. As telas de retina já começam a rivalizar em qualidade com o impresso quando se trata de visualizar imagens – num livro de arte, por exemplo.

É fato, porém, que a evolução do livro eletrônico ainda está aquém de suas potencialidades. A começar pelos preços, que poderiam ser muito mais acessíveis e expandir o consumo de livros em geral, não apenas os eletrônicos. Faltam também aos e-books a qualidade que os impressos oferecem no tratamento editorial. Raras são as edições eletrônicas, por exemplo, que informam quem foi o tradutor da obra publicada – uma informação elementar para um livro.

Por outro lado, pode-se imaginar como a tecnologia digital poderia enriquecer a apresentação e o conteúdo dos livros, com a multimídia e o acesso à internet. Há ainda as facilidades que o digital oferece para a circulação dos livros. Aqui, o avanço tecnológico esbarra nos obstáculos jurídicos e de propriedade – questões que estão à espera de uma solução criativa para que o livro eletrônico possa cumprir seu ideal.

 

Por Arie Halpern.

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